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Universidade Monstros

Quando assisti Monstros S. A. pela primeira vez, no lançamento nos cinemas em 2001, eu perdi várias cenas e falas do começo do longa. Explico: simplesmente paralisei ao me dar conta de com a Pixar estava contando a história do dia a dia dos montros que moram nos nossos armários. Foi uma sensação maravilhosa da qual nunca vou me esquecer e, claro, veio à tona ao assistir Universidade Monstros, que a Disney/Pixar lança agora dia 21. Ele conta a história que antecede a que já conhecemos, mostrando como os amigos Mike Wazowski e James P. Sullivan, o “Sulley” se conheceram. Não foi uma amizade, digamos, natural: aconteceu depois de muita briga, todas muito divertidas para nós. A segunda história com a turma é adorável, embora a maravilhosa surpresa causada no primeiro filme não aconteça mais. Mas isso não importa, juro. É uma delícia saber mais sobre a vida dos personagens que já nos conquistaram e, claro, mergulhar nos detalhes impressionantes e se entregar às gargalhadas de tiradas do roteiro, daquelas que a gente fica repetindo depois. Ah, mais uma: o pequenino Mike é o grande protagonista da história, detalhando bem como ele é desde a infância e as dificuldades que passou, o que dá um tom mais psicológico e não tão aventureiro à trama. Mas confirma a força do personagem que as crianças amam. Diversão e adoráveis monstruosidades.
Universidade Monstros
Disney/Pixar
2013

Listas Fabulosas de Eva Furnari

LISTASFABULOSASCAPAVivo agora um momento histórico. Da minha própria vida. Acho que acabo de ler o MELHOR LIVRO DA EVA FURNARI. Mas será que isso é possível? Falo de Listas Fabulosas, lançado pela Editora Moderna.

Primeiro eu ri, ri muito, gargalhei de tudo. Depois, me emocionei. Porque é tão maravilhoso o que ela consegue fazer, esta autora de mais de 30 anos de carreira, a criadora da Bruxinha e de tantos outros personagens que nos viram a vida. Neste, ela apresenta Grômio, um fanático por listas que funda o Clube das Listas. Ele coloca o anúncio em um jornal e, claro, encontra outros sócios, que vêm com suas listas mais do que incríveis. Exemplo: na lista de tarefinhas complicadas, tem “ir ao cinema com elefante” ou “passar na Lua antes de ir para a escolar”; na de nomes preferidos de duplas caipiras, tem “amulet e omelet” e “palito e piloto”. E por aí vai, com ilustrações cheias de deliciosos detalhes.

outro exemplo de uma lista-maluca saída da mente de Eva Furnari
outro exemplo de uma lista-maluca saída da mente de Eva Furnari

Só vendo para crer. E é tudo junto: nonsense e poesia, sentido e criatividade, liberdade e forma, conteúdo e maluquice. Melhor livro da Eva? Puxa, mas eu tenho uma lista deles. E assim é Eva. Sempre uma nova escritora e ilustradora. Quando você acha que já viu tudo dela, ela te manda uma listas destas…

Listas Fabulosas (Ed. Moderna)

Textos e ilustrações Eva Furnari

2013

palpite: para crianças de 7 a 100 anos

 

O menino Anton três vezes (e nós esperamos mais)

3 Livros de AntonAdoro Anton. Adoro o jeito como ele imagina e executa suas ideias e como ele acha que conseguiu as coisas. Acha? Vá perguntar a ele e, com certeza, vai ouvir um “consegui, sim”. Conheci este adorável personagem do alemão Ole Könnecke em 2008, quando a WMFMartins Fontes lançou o livro Anton Sabe Fazer Mágica. Neste primeiro, o menino arruma um turbante e, com ele, faz várias tentativas.

O segundo, O Segredo de Anton, é genial: o autor brincar com o leitor e dá a ele as frases, só que não as ilustrações do que está narrando. No terceiro, Anton e as Meninas, o menino experimenta a tão conturbada relação de meninos e meninas e tenta chamar a atenção delas de qualquer jeito. Como não poderia deixar de ser, elas não ligam muito para o que ele faz, e é essa sutileza que deixa tudo ainda mais divertido.

Para o adulto, os livros oferecem a poética simplicidade de ver o desenvolvimento emocional e social da criança pequena. Para a criança pequena, a identificação imediata: ela se sente ali, com Anton, vivendo (ou revivendo) as situações.

Anton Sabe Fazer Mágica, O Segredo de Anton, Anton e as Meninas (Ed. WMF Martins Fontes)

textos e ilustrações: Ole Könnecke

2008, 2010, 2013

palpite: para crianças a partir de 3 a 100 anos

 

A Primeira Palavra de Mara

PRIMEIRAPALAVRAMARACPApQuem tem criança por perto já viveu o que a protagonista deste livro passa nessa história. Entre todas as expectativas que os adultos colocam nos bebês, o começo da fala é uma das maiores! É sobre isso o A Primeira Palavra de Mara (Ed. Jujuba), dos espanhóis Ángel Domingo e Miguel Tanco.

Imaginem aquela típica competição entre as famílias do pai e da mãe da criança, mas há dois pontos que dão um sabor diferente à história: o primeiro é que, além de todos “buzinando”palavras no ouvido da bebê, há algumas cenas do irmão mais velho cochichando algo que, claro, o leitor só vai saber no final. O segundo, e que achei lindo, é que nas cenas em que estão o pai e a mãe “soltando sem querer” uma palavra para o bebê memorizar, o pai diz “mamãe”e a mãe diz “papai”. Parece simples, mas são nestas pequenas delicadezas que se faz o melhor da vida, e os autores não perderam a chance de fazer.

PRIMEIRAPALAVRAMARADENTROp

As ilustrações têm um humor poético – se é que isso pode existir! – e são criativas e surpreendentes, daquelas que “engolem” o leitor. Ótimo para ler repetidas vezes! (aliás, a Jujuba tem sido uma surpresa maravilhosa. Não é apenas a escolha da história, mas o projeto gráfico e detalhes nas páginas de créditos são também imperdíveis).

A Primeira Palavra de Mara (Ed. Jujuba)

textos: Ángel Domingo

ilustrações: Miguel Tanco

2013

palpite: para crianças de 3 a 100 anos

O Urso e o Gato-Montês

Livro para criança pode combinar com melancolia? Sim. E se quiser fazer isso com algo de qualidade, a obra O Urso e o Gato-Montês (Ed. Outono/Brinque-Book), dos japoneses Kazumi Yumoto e Komako Sakai pode ser uma linda opção.

Na história, um urso que perdeu um amigo, um amigo-passarinho. Mais do que isso. Era seu melhor amigo. Os amigos o apoiavam, mas sempre diziam palavras do tipo “você vai superar”. Poucos o queriam ouvir e foi preciso alguém de fora, um gato, um gato bem gato mesmo, com sua liberdade e leveza para, então, deixar o urso falar sobre o que estava sentindo. Elaborou o luto com o novo amigo, condição primeira para o tal “superar”.
É um livro sobre a morte? Eu poderia dizer que sim. Eu poderia falar da delicadeza do ritmo da narrativa e das ilustrações sensíveis a ponto de nos emocionar profundamente. Mas ele é mais. É um livro sobre todas as perdas. Sobre todas as mudanças. Sobre a morte de alguém próximo ou de um animal; sobre a expectativa de uma casa ou escolar nova. Pois, acima de tudo, é um livro sobre recomeços. O gato não vem apenas consolar o urso, passar a mão na cabeça dele, acolhê-lo. Ele vem oferecer perspectivas. E não é isso que a vida nos ensina?
O Urso e o Gato-Montês (Ed. Outono/Brinque-Book)
textos: Kazumi Yumoto
ilustrações: Komako Sakai
2012