Hélio Ziskind, patrimônio das crianças

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Quem conhece a gaita já sabe quem tá chegando… ops, mas não é só o Júlio, não! Quem conhece a gaita sabe que vem canção boa de Hélio Ziskind, que tem um verdadeiro patrimônio de canções para crianças. E, como grande parte é de trilha para a TV (seja em programas ou comerciais), difícil achar quem não tenha alguma delas na memória. A lista é grande, de aberturas da TV Cultura a jingles para marcas como Johnson’s para crianças, passando por mais de 100 músicas para o Cocoricó, seu espaço mais do que especial de criatividade. Mesmo com a triste descontinuidade do programa, anunciado ano passado, ele continua com projetos para as clássicas composições, além material inédito: Hélio nunca para de criar.

Vamos, então, dar uma volta cronológica. Tudo começou em setembro de 1955, quando Hélio nasceu, em São Paulo. A infância no bairro do Pinheiros foi regada a muita música brasileira. Aos 7 anos ganhou uma medalha da professora de violão por sua performance com Esqueça, de Roberto Carlos. Aos 12 conta que compôs sua primeira canção, para um festival na escola. A paixão o levou para o curso de Composição no Departamento de Música da Escola de Comunicação e Artes da USP, em 1974. Lá conheceu uma turma que mudou a história da música paulistana e, ao lado de Ná Ozzetti, Luiz Tatit, Paulo Tatit, Gal Oppido e outros formou o grupo Rumo. Foi com eles que gravou seu primeiro trabalho para crianças, o disco Quero Passear, Prêmio Sharp de melhor disco infantil e melhor canção infantil com A Noite no Castelo, em 1988. Esta música, inclusive, foi seu laboratório quando deu aulas para crianças em um convervatório de música. Ele conta que a usou para mostrar o que era um som forte e um som fraco (provocando deliciosos sustos, não deixe de ouvir com as crianças! ). Funcionou, claro.

Mas foi na TV Cultura que seu caminho mudou. Convidado para compôr aberturas de diversos programas, estava lá quando surgiu a ideia de um especial de Natal inteiramente com bonecos chamado Um Banho de Aventura, para o qual foi designado para a parte musical. Seis anos depois era a vez da estreia de um novo programa, o Cocoricó, um dos maiores sucessos da emissora, com as aventuras de um menino, Júlio, que mora na fazenda dos avós e tem amigos incríveis – um cavalo, três galinhas e tudo o mais que já somos felizes de saber. Em 1997, lançou seu primeiro disco solo Meu Pé Meu Querido Pé reunindo canções do Cocoricó, Castelo Rá-Tim-Bum, Glub Glub, etc. E ainda vieram O Gigante da Floresta (2000), Cantigas de Roda (2004), Trem Maluco (2006) e O Elefante e Joaninha (2010).

Agora, Hélio vive um momento de rever sua história, seja regravando as canções de sucesso ele mesmo (como no DVD Show no Paiol em que ele vai ao cenário com sua banda e dá voz às músicas antes gravadas pelos personagens-bonecos, lançado em 2012), ou compilando mais de 90 músicas feitas para o programa na Coleção Có-có-coral!, lançada em 2013, com 4 CDs das versões originais. Isso não quer dizer que ele também não se envolva com novidades como o criativo curta-metragem de 10 minutos João, o Galo Desregulado, uma animação tocada e cantada por ele, com criação e direção de Camila Carrossine e Alê Camargo.

Em meio a tudo isso, ainda sobrou tempo para o CD Coração de 5 Pontas, um projeto especial para contar a história do São Paulo Futebol Clube, além de adaptações para musicais, como o Na Casa da Ruth (com poemas de Ruth Rocha) e Tic Tic Tati (com textos de Tatiana Belinky), que também viraram CD em parceria com a cantora Fortuna.

Conversei com ele sobre as novidades para 2014 e outros assuntos. Confira aqui um trechinho do nosso bate-papo!

 

ESCONDERIJOS: Com tanta coisa que você já fez nestes mais de 30 anos de carreira, já tinha feito uma animação nos moldes do curta João, o Galo Desregulado?

Hélio Ziskind: Já tinha feito gravação com animação (como ao do Ratinho Tomando Banho), mas nunca como história. Foi a minha filha que me levou até o Alexandre e a Camila, e vimos que tínhamos muitas ideias em comum.

ESCONDERIJOS: Quanto tempo demorou para gravar e acertar tudo?

HZ: Acredito que uns três meses. Foi tudo baseado no livro (lançado pela Ed. Escrita Fina em 2013), mas a gente foi também criando junto. Conforme a música precisasse, eles iam adaptando as cenas. Foi um processo muito liso, muito bom.

ESCONDERIJOS: E a repercussão?

HZ: Olha, quem estava envolvido com a história real adorou (Camila, a autora, conta que conheceu de verdade o galo), mas as crianças que assistiram no cinema bateram palmas a animação toda. A narrativa ritmada funcionou demais. Para mim o que teve mais valor foi a relação com o Alexandre e a Camila, a gente ficou muito animado e estamos fazendo outras coisas juntos.

ESCONDERIJOS: E pode contar?

HZ: Estamos fazendo pequenas animações com canções minhas já conhecidas. A ideia é ir colocando em um canal no Youtube e depois, conforme for, juntar em um DVD.

ESCONDERIJOS: Pode citar alguma canção que vocês já estão trabalhando?

HZ: Sim. Vitamina de Tutti-Frutti e Nos Dias Quentes de Verão.

ESCONDERIJOS: E qual é o tipo de animação?

HZ: Só posso dizer que estamos fazendo… (risos). É que ainda estamos realmente experimentando. É bem experimental mesmo.

ESCONDERIJOS: E que maravilha ainda poder experimentar, não?

HZ: A minha alegria de fato é estar trabalhando com criação. E eu acho que a gente precisa mesmo experimentar e ver o que realmente gostamos de fazer. Poxa, cantar em cima de uma animação! Eu estou achando tudo muito legal.

ESCONDERIJOS: Está se divertindo…

HZ: Sem dúvida. Olha, isso tudo acontece na minha fase de cantar eu mesmo o repertório do Cocoricó. Então lancei a Coleção Có-có-coral, com mais de 90 faixas de canções do programa, interpretadas por mim. Se você me perguntar onde estou hoje é justamente na fase de ajuntar tudo. Consegui reunir meu trabalho, remasterizando, encarte com as letras, unindo tudo que estava de alguma forma disperso. E aí vai também se unir à ideia de lançar meu site em março e o canal no youtube.

ESCONDERIJOS: E como é acontecer tudo isso justamente na mesma época em que foi anunciado o final das gravações do Cocoricó?

HZ: Olha, o que tem de mais triste nisso tudo é que a TV Cultura tem momentos de euforia e depressão. E isso é muito cruel com quem está criando lá dentro. Essa coisa espasmódica… poxa, depois que você consegue montar uma equipe como esta do Cocoricó não é preciso muito mais para ter sucesso. O que é mais fraco na TV Cultura é eles terem tão pouco conhecimento do que se faz na criação. E é incompreensível esta autodestruição do departamento infantil. Como é possível um programa como o Cocoricó não ser um sucesso comercial?

ESCONDERIJOS: É muito triste mesmo. Voltando para 2014, entre estas animações haverá alguma canção inédita?

HZ: Ainda não. Por enquanto, tenho outros trabalhos inéditos. Tenho um com o Ivan Rocha que é uma animação em stop motion que estamos fazendo a trilha sonora e as canções. É a história de uma traça que está dividida entre ler e comer os livros. O roteiro é da minha filha, Carolina, e a produção é de uma turma de São Carlos (SP), a Rocambole Produções. A ideia é que fique pronta em 2015. Mas também estou fazendo a história do Patinho Feio, do Hans Christian Andersen. Recontando, com narração e canções. Para lançar em 2014. É uma ideia antiga, que lembra mesmo a coleção Disquinho e bem na contramão do que se faz hoje: só o Patinho Feio, na versão do Andersen mesmo, já são uns 40 minutos só de leitura. Hoje é tudo muito curto demais.

ESCONDERIJOS: E a ideia é somente ter clássicos?

HZ: Não, estamos pensando também em histórias contemporâneas. Por exemplo falar da vida no Polo Sul, abordar o lado científico, a vida por lá.

ESCONDERIJOS: E, pensando em tudo que você já fez e ainda vai fazer, o que é uma boa música para criança?

HZ: Acho que a pergunta não é essa. Certamente a relação com a criança existe, mas tem mais a ver com o como atrair a atenção dela. A diferença entre compor para criança é esta: não tem sentido você estar só em si mesmo e a criança estar ligada em outra coisa. O artista que compõe para criança não tem o benefício da solidão, como quando você vê o João Gilberto só em si mesmo… Claro que há momentos assim, mas você precisa construir algo que chame a atenção da criança.

ESCONDERIJOS: E nesta onda do politicamente correto, há limites para compor para crianças?

HZ: Na história do Patinho Feio, por exemplo, a gente percebe que as versões foram tirando as partes mais sofridas da história. E queremos colocar de volta. Por que queremos que a criança sofra? Não, não é isso. Mas as histórias são ferramentas importantes para ela.

ESCONDERIJOS: E hoje há um excesso de segmentação em tudo, não?

HZ: Olha, não me considero um artista “para crianças”. Uma vez vi o Maurice Sendak (autor de clássicos mundiais para crianças como Onde Vivem os Monstros) dizendo que estava grudado na criança. Eu não estou. O CD do São Paulo foi bem adulto, provou que eu poderia. Na verdade, esta passagem de canções para criança e para adultos deveria ser mais tranquila. Poxa, a famosa coleção Disquinho era feita por Radamés Gnatalli, que arranjava os grandes artistas, e João de Barro fazia as letras e também compunha Carinhoso e marchinhas de Carnaval. Era tudo vivido junto e assim deveria ser.

Para ouvir e assistir:

A Noite no Castelo

Anúncio Johnson’s

Ratinho Tomando Banho

E, para completar, o super hit do Cocoricó, na versão do DVD Show no Paiol, um GRANDE sucesso aqui em casa! Clarice delira.

3 COMENTÁRIOS

  1. rs c9 verdade Joseli, que bom que gootsu.. fico muito feliz!!Minha me3e ate9 hoje conversa comigo, ela diz a mesma coisa que eu comentei no blog: a infe2ncia atual ne3o sabe o que e9 diverse3o.. Ela fala, e ri muito, quando o assunto se3o os carrinhos de rolime3.. eu particularmente nunca brinquei mas do jeito que ela fala parece que sei exatamente como e9..Minha me3e ne3o teve muitas regalias como, grae7as a Deus e e0 meus pais, eu e minhas irme3s temos.. escolher qual a boneca que eu quero, uma que podesse ser cara e que vinha com tudo o que eu queria.. mas ela diz que soube bem aproveitar a infe2ncia.