BOLOGNA 2014: Prazer em conhecer, Iela Mari

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Toda véspera de evento (ou alguns dias antes), jornalista corre atrás do site oficial para ver se está confirmada toda a programação do evento. Em meio a tanta coisa para acompanhar na minha primeira visita à Feira do Livro Infantil em Bologna (na 51o edição), li “tributo a Iela Mari”, a ser realizado por uma associação de cultura local. Entre as palestrante, Sophie Van Der Linden, que conheci com a edição da Cosac Naify no Brasil de seu livro Para Ler o Livro Ilustrado. Fui atrás de ver quem era.

 

Na primeira pesquisa entendi o “tributo” a italiana de Milão Iela (nascida Gabriela) morreu em janeiro deste ano, aos 82 anos. Continuando a busca, descobri (ou redescobri, a gente nunca sabe…) que se tratava de uma ilustradora e autora italiana praticamente autodidata que fez história na literatura infantil. Deixou sua marca, mudou rumos. Esposa do designer Enzo Mari, dedicou-se a estudos sobre a percepção visual das crianças e, a partir disto, criou seus famosos livros de imagens como o Il Palloncino Rosso (algo como O Balãozinho Vermelho), em 1967. A partir desta publicação, foram só prêmios e prêmios.

 

A característica de seus livros é sempre não existir texto, deixando toda a narrativa para um caminhar ilustrado. O empenho gráfico reina e a natureza era o principal tema. Uma mulher à frente de seu tempo e que sabia que livro para crianças não nasceu para limites.

 

Eu não consegui conferir o tributo de perto, mas fiz o meu em particular, em meu primeiro contato com a obra dela. Para delírio dos frequentadores, pela primeira a organização da feira abriu um pavilhão ao público, recebeu crianças para oficinas e encontros com o autor e, claro, permitiu a venda de livros. O que eu fiz? Comprei alguns e fui em busca de Il Palloncino Rosso (publicado em 2004 pela Babalibri e datado como primeira edição 1967) como quem procura uma joia rara, em meio a tanta oferta. E eis ele aqui comigo.

 

O livro é lindo desde a primeira ilustração que começa com um sopro – o que seria mais poético que isso? É o que você vê no começo deste post. Do sopro de um menino, uma bola de chiclete vermelha. Uma bola que vira um balão. Um balão que ganha vida e voa. Voa tão alto que se enrosca em uma árvore e se torna uma maçã. Uma maçã que, como comprovado e recomprovado sempre e sempre, cai e se transforma novamente e por aí vai. Até? Até sempre. É este ritmo de sopro, vôo, vida, ciclo que emociona o virar de páginas. Minimalista, tem o vermelho forte e preenchido contracenando com contornos em preto, finos e delicados como a leveza da figura em metamorfose.

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(E me lembrei, claro, do clássico O Balão Vermelho, filme fabuloso média-metragem de 1956, do francês Albert Lamorisse, em que um menino percebe um balão amarrado em um poste e resolve soltá-lo e o acompanha pelas ruas de Paris).
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No site da editora Kalandraka para Portugal, que publicou os livros de Iela, atribuem esta frase a ela. “De todos os meus livros, este é o preferido das crianças, muito mais do que os outros; Entram nele sem nenhum problema. Os adultos, em geral, dizem que não compreendem nada”.

 

E assim alguém se torna necessário para infâncias.

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