Não são os melhores livros do ano.
Não são os melhores livros de todos os tempos.
Esta é a lista dos livros mais queridos da Clarice, minha filha, de 2 anos e 7 meses, por uma série de razões, motivos e porquês.
Por que esta lista é interessante aqui?
Porque este blog/site é uma mistura da minha experiência com livros infantis – em um acompanhamento de lançamentos e ritmo de leitura mais intensos nos últimos 10 anos – com a experiência leitora da Clarice, que bebe do incentivo ao livro aqui em casa (desde a gravidez) comigo e na escola (desde os seis meses). Eu me surpreendo a cada dia com o que ela observa nas publicações, muitas delas que conheço há tantos anos.
Assim, listarei os livros mais como uma troca divertida do que qualquer outra coisa e farei umas linhas sobre cada um:
Vai Embora, Grande Monstro Verde!, de Ed Emberley, Editora Brinque-Book, 2009
Este é um livro-brinquedo que se constrói e se “desmancha” para o leitor conforme o virar das páginas. Desde a capa o leitor vê dois buracos e a figura do tal monstro. Mas é folheando que ela acompanha nos recortes das páginas a figura do monstro se formando: olhos amarelos, nariz azul-esverdeado, boca vermelha, dentes brancos afiados… E, quando ele se dá por completo, o leitor lê (ou ouve) “você não me assusta”, e a própria leitura retira do monstro suas características até que ele desapareça por completo. Clarice delira. Ela o conheceu na escola – ele é um hit na classe dela – mas eu já tinha em casa (o que fez dela naquele momento a menina mais feliz do mundo!). E, conforme vai crescendo, cria uma relação de poder maior com o livro e, portanto, de ver este monstro surgindo na frente dela e tendo mais coragem de desconstruí-lo. A graça é decorar a história, seja na leitura sozinha ou comigo. Sim, o aqui de casa ela acabou rasgando, pois os recortes são em folha couchê, não em cartão, por exemplo. Mas por enquanto eu ainda não o substitui por um novo: ela está lidando com estes estragos e se incomoda quando os vê, então estou achando bom.
A Casa dos Beijinhos, de Claudia Belinsky, Editora Companhia das Letrinhas, 2007.
O livro é um clássico entre os pequenos desde que foi lançado e eu não tinha no meu acervo em casa. Mas comprei no dia em que a Clarice topou com ele em uma livraria: ela já havia se apaixonado na escola. Ela tem uma versão um pouco menor do que a original, lançada em 2013, mas que segue o mesmo projeto do primeiro. O protagonista é um cachorro que chega em casa e lança a pergunta: “Cheguei! Tem alguém para beijar o neném?”. A primeira resposta é de uma aranha: “Beijinho de Aranha? Ah, não, se não eu faço manha!”. E por aí vai em rimas e nonsense, sempre com as provocações em texto guardadas por abas que são desenhadas conforme a casa do personagem vai se revelando para o leitor. Clarice ama abri, reabrir e me mandar abrir as abas e adora as rimas, além de tentar concretizar tudo que ouve, com gestos ou sensações. O livro termina, claro, com o beijinho do papai e da mamãe, que dá o conforto esperado para o pequeno cachorro.
Qual o Sabor da Lua?, de Michael Grejniec, Editora Brinque-Book, 2007.
Embora eu ame este livro desde que foi lançado aqui, comprei um para mim somente no ano passado, também para meu acervo. Não me lembro exatamente a razão, mas um dia resolvi contar a história para Clarice. Bem, eu tenho adoração por contos acumulativos e este é incrível. Conta a história de uma turma de animais que desejavam profundamente saber qual era o gosto da Lua. Seria salgada? Doce? Mas ninguém conseguia alcançá-la. Um dia, uma tartaruga subiu a montanha mais alta para fazer uma tentativa. Como não teve êxito, chamou o elefante (acho a entrada dos animais fantástica, pois a ironia é clara). “Se você subir nas minhas costas, talvez a gente consiga alcançar a Lua”. Só que a Lua achou que fosse uma brincadeira e, quando o elefante se aproximou, ela subiu mais um pouquinho. Chamaram a girafa… E por aí vai, sempre repetindo um pouco o pedido de subir nas costas e mantendo o ritmo de acúmulo de personagens com o apoio do projeto gráfico. Clarice hoje já sabe a ordem de entrada dos animais e uma mediação em tom de exagero é o que ela mais ama. Parece que a história acaba quando eles finalmente conseguem provar a Lua. Que nada: na última página, o leitor ganha um final a mais, uma piada a mais que Clarice ainda não entende completamente, mas gosta que eu leia. Todo o livro está escrito em letra bastão, aquela “de forma”, ótimo para a fase de alfabetização, o que quer dizer que Clarice pode degustar o livro por muito tempo, de diferentes maneiras. A tentativa de ela falar o nome do autor é um dos melhores momentos, rs.
Um Elefante Se Balança…, de Marianne Dubuc, Editora DCL, 2013.
Comprei este livro na feira da escola da Clarice, pois amo os livro da Marianne Dubuc. Com este não foi diferente. Todo em papel cartonado, ele apresenta já na primeira dupla, um elefante que se balança em uma teia de aranha. Ele passa, a partir de então, a chamar outros animais para equilibrar-se com ele. Aquilo vai enchendo e ficando, digamos, emocionante. As frases são bem curtas e fáceis da criança memorizar, mas as ilustrações são bem engraçadas e com detalhes de movimento que a Clarice ama ver e rever. Todos vão subindo na teia enquanto dá aquele frio na barriga de que aquilo tudo não vai acabar bem. Mas é a própria aranha quem corta a teia – com uma tesoura – e todos vão para o chão. Clarice ama como os personagens e seus objetos se misturam e mudam de lugar. O final também surpreende, embora acredito que a Clarice não entenda exatamente por que. Gosta mesmo do movimento e de como tudo “acaba bem”.
Vamos Ajudar o Gildo?, de Silvana Rando, Editora Brinque-Book, 2014.
O Gildo é um elefante adorável que surgiu no mercado pelo traço e imaginação de Silvana Rando, em 2010. Na história, ele é corajoso para tudo, mas tem pavor de bexigas. De uma forma bem criativa, a história apresenta a relação da criança com medo, com um final surpreendente e primorosos detalhes da ilustração. Eu ainda não havia apresentado-o para a Clarice, quando me deparei com o lançamento ano passado de uma edição da Brinque em que o personagem é colocado não somente em outra situação, como também em uma interatividade muito divertida. Nesta série (que também apresenta o Ai, Machuquei, de Thiago Lopes), o elefante Gildo é exposto em sete situações diferentes, uma em cada dupla, tudo em papel cartonado. Mas a interatividade acontece no seguinte: na capa do livro há um buraco no formato dele em que temos um Gildo de plástico (dos livros de banho) amarrado em uma fita, como se fosse um marcador de páginas de diários. A função do leitor é retirar o “boneco” da capa e ir grudando-o em cada situação apresentada, com a ação indicada por um velcro redondo. Você pode pensar: “mas é livro? Tem alguma enredo?”. O que vejo é o processo da Clarice de apropriação das situações e elaboração de vocabulário, exatamente como uma brincadeira-história. Adorável.
Bruxinha Zuzu e Gato Miú, de Eva Furnari, Editora Moderna, 2010.
Eva Furnari é um das minhas autoras preferidas e não imaginei que Clarice fosse se envolver com ela tão cedo. Mas como os livros estão em minha casa e traçando por ela seus próprios caminhos, Clarice conheceu a Bruxinha por este livro lançado na fase recente de Eva recriando seus clássicos. A personagem dela mais importante, e que nasceu em tirinhas na Folha de S. Paulo nos anos 1980, nesta ediçãoo ganhou nome para ela seu companheiro. Mas as trapalhadas são as de sempre – as que conquistaram e conquistam milhares de leitores. Eu fui lendo as tiras sem texto com a minha filha, tentando dar referências a ela e me surpreendi muitíssimo quando vi que ela também criava as próprias. Para ela, ver a Bruxinha dormindo no sofá era mais do que suficiente para ela se envolver com a leitura e dar risada comigo. Vi que ainda é um início, mas ela já tem carinho pela Bruxinha e, quando fomos ver a exposição sobre a Eva no Sesc Ribeirão Preto ano passado, Clarice já se sentia “em casa”.
Pipo e Póli – A Poça, Pipo e Poli – A Superpatinete, de Axel Scheffler, Editora Brinque-Book, 2013.
Os dois livros foram lançados juntos e assim chegaram aqui em casa também. Ou seja: Clarice teve acesso aos dois ao mesmo tempo e até hoje uma leitura não acontece sem ser seguida da outra. Confesso que quando o li pela primeira vez achei que estava diante de um livro “simples demais”. Precisei da mediação da Clarice para me encantar. Mesmo que de formas diferentes, Clarice lê este livro desde 1 ano de idade. A princípio eram as cores fortes e o tamanho quadrado que parecia que unia livro e leitor. Depois, os animais: Pipo é um coelho e Póli uma ratinha. Depois ela foi se envolvendo com a minha leitura e acredito que não somente as escolhas de Scheffler como a sempre boa tradução de Gilda de Aquino colaboram demais. As frases são simples e diretas, mas a descrição se completa e se revela no desenho. Os dois livros acontecem a partir do encontro destes dois amigos que adoram brincar juntos.
O livro A Poça conta quando Pipo foi brincar na casa de Póli em um dia de chuva. Os dois estavam se divertindo tanto que Pipo esqueceu de ir ao banheiro fazer xixi. Já imaginam o que houve, não? A “poça” escapa no meio do quarto e ele fica muito envergonhado. O autor trabalha com essa questão extremamente aflitiva da criança e, conforme Clarice viveu o desfralde, o livro se transformou para ela. E virou ainda mais obrigatório.
O segundo, A Superpatinete, fala de um dia em que os dois vão brincar no parque e Pipo chega de patinete, arrasando. Póli fica doida com o brinquedo e arranca à força do amigo para experimentar. Só que ela leva um baita tombo. O amigo a acode e tudo acaba bem, claro. Também próximo do cotidiano – a disputa de brinquedos – ele chegou com tudo no coração-leitor da Clarice, fazendo com que ela se emocione com a dor de Póli. E, de quebra, cada detalhe das ilustrações foi se transformando em conquistas de significado, que eu fui introduzindo conforme as referências dela foram se sedimentando. Por causa dele, Clarice chama de “patinete” tudo que tiver uma prancha.
Cocô no Trono, de Benoît Charlat, Editora Companhia das Letrinhas, 2006.
Este também é outro clássico entre os livros-brinquedos para os bebês. Ela conheceu primeiro na escola, mas eu quis comprar para ter como acervo para meus estudos. O livro é uma sucessão de apresentações de animais fofos sentados em privadas. Cada página aparece um com uma frase que define os cocôs. Mas isso acontece na maioria de forma nonsense, naquele “tudo pode” divertido que a criança ama. Para a fase do desfralde, é a opção número 1 na livraria, embora Clarice tido acesso a ele antes. No final do livro, a criança consegue apertar um botão invisível e ouvir uma descarga: é a conquista do pequeno pintinho que já faz “cocô na privada, sozinho, como gente grande!”. Não sejam preconceitos achando o livro “bobinho”: ótima leitura!
Pocotó, de Silvana Rando, Editora Compor, 2014.
Este livro Clarice conheceu durante um jantar e eu já até falei dele aqui. É um dos meus truques para fazer com que ela coma, confesso. Li a primeira vez, atentando bastante para os detalhes das ilustrações, enquanto narrava a trama. Tive que repetir umas cinco vezes. O jantar todo foi ao lado do livro e ela ficou encantada com ele por muito tempo. Na história, um cavalo que trabalha no abastecimento de um castelo real sonha em fazer parte da guarda oficial. Quando finalmente é escolhido, se surpreende quando nota que, na verdade, será o bicho de estimação da Princesa Pipoca e, assim, vive aventuras inesperadas que dão uma virada na história. Como a personagem tem cachinhos loiros, eu disse a Clarice que elas se pareciam. Pronto: em toda leitura Clarice me acompanhava obrigando-me a dizer “princesa Clarice Pipoca”. Esta identificação fazia tudo ficar mais divertido para ambos os lados, e marcou até tios e primas mais velhas que liam com ela.
Seu Soninho, Cadê Você?, de Virginie Guérin, Editora Companhia das Letrinhas, 2008.
Este é um clássico da literatura infantil em pop para os pequenos. Na história, um jacaré perde o sono e incomoda todos os animais em busca do “Seu Soninho”. Além das abas e flechas que fazem olhos e bocas se abrirem e fecharem e outras brincadeiras, a história é deliciosa. Clarice conheceu o livro na escola e, como a leitura acaba acontecendo várias vezes, ela constantemente abre o livro e diz: “Os animais da floresta acabaram de almoçar. De barriga cheia, todos tiram uma soneca”, que é o início do livro. Claro que estas palavras já saíram a boca de Clarice de várias maneiras diferentes, foi um jeito de acompanhar as fases da linguagem. Este livro também foi danificado quando era ela tinha 1 ano e meio mais ou menos e, até hoje, se dar conta das partes que faltam são um drama para ela. Acho importantíssima oportunidade para ela aprender a cuidar do livro, e ir treinando lidar com objetos delicados.
Estes 11 livros são somente uma mostra de como a diversidade de leitura pode acontecer desde tão cedo com a criança. É a criação de repertório que fará com que ela crie critério para as predileções futuras e, principalmente aguce mais as emoções, imaginação e criatividade! Mas o principal eu não consigo escrever aqui como acontece: qual a magia que laça um leitor em um livro?
Cris, adorei a lista.
Aqui tem alguns dos preferidos do Manoel também e outros que eu não conhecia, mas vou apresentar a ele, graças à vc!
Obrigada!
Aliás, suas indicações são sempre preciosas!
Bj
Denise, que honra saber disso! É um prazer este tipo de retorno, porque eu amo amo amo amo escrever sobre livros, nunca me canso!
Estou adorando seu espaço e suas dicas!!
Dessa lista 5 nós conhecemos e tb adoramos, inclusive o monstro verde é primeiríssimo lugar, rs. Toda noite temos que contar essa história pelos menos umas 3x…
Os outros já tratei de anotar para providenciar em breve!
Parabéns pelo incentivo à leitura, não só dentro da sua casa! Grande serviço à nossa infância!
Obrigada por me ajudar a ser uma mãe melhor!
Beijo!
Natalia, seus comentários são um presente para mim!!! Você já curtiu a página no Face ne? Espero ver vc por aqui sempre!! E vá me contando, porque é muito bom saber de outros livros… este Meu Leão eu vou atrás… acho que conheço, mas não consigo lembrar!
Muito legal, Seu Soninho já conhecíamos. Acabei de comprar pela internet os livros Cocô no Trono e A Poça, ansiosa pra ler pra minha pequena. Anotei os demais, obrigada pelas dicas.