O Velho Louco Por Desenhos

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Conheci este livro em 2005 ou 2006 e foi paixão à primeira vista. Uma amiga, Paula Perim, me indicou, me emprestou. Li à vontade, como acontece entre amigos e não comprei um naquele momento. Mas rapidamente me apropriei dele. Tanto que acredito que comprei uns cinco exemplares para dar de presente antes mesmo de ter o meu. É assim que O Velho Louco Por Desenhos entra em nossas vidas e é por isso que ele, para mim, é um clássico.

 

Escrito pelo francês François Place (aqui com tradução de André Viana e lançado pela Companhia das Letrinhas), conta a história do menino Tojiro, um garoto de nove anos, origem humilde e que todas as manhãs sai de casa bem cedo com uma cesta de bolinhos de arroz para vender, na cidade de Edo, antiga capital do Japão. É conhecido por todo o bairro e vende para todo o tipo de gente – até aos samurais muitas vezes. O pequeno perdeu os pais e vive com um tio e uma tia e ele não tem trégua na venda! O trabalho é duro, mas o menino adora a oportunidade de conhecer cada canto de onde mora.

Um dos clientes é bastante estranho. Um velho rabugento muito pobre mas que toda vez que ele vê Tojiro deixa escapar um sorriso. Chama-o de “pardalzinho”. Tojiro só sabe que ele é um grande artista e que não para de desenhar. Um dia o senhor o convida a entrar em seu ateliê… e o menino nunca mais quer sair de lá.

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Os dois vão se aproximando cada vez mais, principalmente quando o velho pintor faz uma proposta: ensina o garoto a ler e a escrever e o menino o ajuda com os materiais e entrega dos desenhos.

 

O velho pintor se chama Hokusai.

 

E é aí que o leitor tem o convite oficial para entrar na romanceada biografia de um dos principais artistas da história do mundo: pintor, desenhista, ilustrador, gravurista, Hokusai viveu de 1760 a 1849, autor da obra “A Grande Onda”.

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Fatos reais se misturam à ficção narrada aqui de maneira leve, ora sob o olhar do narrador, ora sob o ponto de vista ingênuo do menino. As ilustrações misturam trabalho do próprio François junto aos desenhos de Hokusai. Mas, contando a vida de um mestre japonês, o autor amarra arte, história e cultura, seja exibindo os costumes da época, seja revelando significados de termos (com direito a um glossário no final), seja detalhando os caminhos de uma gravura até um livro. Por mais que seja um livro de quase 100 páginas, ele voa em nossas mãos e nos deixa o desejo de checar os detalhes e conhecer mais sobre o artista. Afinal, quem não se encanta em saber tudo sobre o inventor do mangá?

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Há trechos de diálogos memoráveis:

 

“A primeira coisa que espero de você, pardalzinho, é que jamais arrume meu ateliê. A segunda, que seja sempre curioso, que escancare bem os olhos e os ouvidos. A terceira, que jamais atrapalhe quando eu estiver trabalhando.”

 

(…)

 

“Psiu… Olhe lá”, diz ele, apontando com o delo. “Olhe a borboleta no pé da peônia…”

Os dois ficam estáticos, e pelos olhos do velho perpassa o mesmo deslumbramento dos olhos do menino. Quando, juntos, retomam o caminho, o mestre aperta a mão do menino e lhe sussurra:

“Aprenda a olhar em silêncio se você não quiser que o barulho espante, diante de seus olhos, a beleza das coisas frágeis”.

 

É esta mistura de real e fantasia, rabugices e afetos, desenho e palavra que faz deste livro imperdível.

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O Velho Louco Por Desenho (Ed. Companhia das Letrinhas)

textos e ilustrações de François Place (com Hokusai)

2004

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