O Barco dos Sonhos

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Descubro cada dia mais que estou em uma espécie de “cruzada” pela valorização do livro ilustrado, muitíssimo mais à vontade quando encaixado nas prateleiras e catálogos da literatura infantojuvenil. Muitos bons e encontros e todos os bons livros me encaminham para o pensamento do quanto perde-se tempo não aproveitando o que temos de arte disponível. Parece até piada esta crise da produção brasileira do setor na qual estamos mergulhados se temos tudo para salvar o mundo, se estamos diante de uma gama de pessoas tão criativas e com tanto a dizer, trocar…

Há muitas razões e aspectos diversos e sempre que estou diante de uma obra de arte em minhas mãos – considerada por mim, assim, diga-se – eu me encho de felicidade para gritar ainda mais alto: ei, você, olha isso aqui! Algumas vezes eu faço isso literalmente. Outras, por aqui, outras em encontros presenciais… Ei, olhe já O Barco dos Sonhos, livro mais recente do artista Rogério Coelho, lançado pela Editora Positivo! É meu grito agora.

Levou sete anos para ficar “pronto”. Mas livro fica pronto quando mesmo?

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Em uma história “só” com imagens, temos em mãos um livro que as palavras não dão conta. Posso simplificar dizendo que trata-se de uma belíssima sequência de quadros que mostra um senhor em uma casa antiga à beira-mar, que recebe uma folha em branco, encontrada dentro de uma garrafa que veio boiando no mar. Ele pega um lápis e, misteriosamente aos olhos do leitor, desenha um barco. Enrola o papel, recoloca na garrafa, que vai para o mar, com sua mensagem.

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O tom sépia ganha azul para nos levar, agora, para uma outra casa. A casa de um menino que recebe uma carta, envelopada. Nela, um barco. Neste barco, o menino coloca lá o seu sonho. No seu sonho, ele vai no barco, mas um barco voador, que encontra um senhor, que mora à beira-mar. Faz-se um ciclo? Por fora ou por dentro?

Ah, não é livro para ler correndo e entender de uma vez. É livro para descobrir, degustar, aproveitar. Cheio de detalhes em luzes, sombras, tons e formatos, parece que voamos no barco ou ouvimos os cantos dos pássaros. O livro está cheio de pássaros cantando! É livro-música também, veja só. De infância, de velhice e de pensar no encontro de ambas fases, que somos o tempo todo.

Aí, quem sabe, nos damos conta de que é um livro que não vai acabar nunca. Feito literatura.

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O Barco dos Sonhos (ed. Positivo)

Ilustrações de Rogério Coelho

2015

 

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