Em tempos que só se fala em Copa do Mundo e futebol (para o bem e para o mal, diga-se), dois livros infantojuvenis não me saem da cabeça: primeiro, o clássico O Gênio do Crime, de João Carlos Marinho, e belíssimo O Presente, de Odilon Moraes. Ambos me remetem a uma disputa como tradição, fantasia, aquele “pode-tudo” delicioso em que a literatura nos deixa navegar à vontade. E, em tempos de polêmicas, decepções e muita expectativa, acho que ambos caem bem como um carinho em nossas almas banhadas pela tradição de nosso “país do futebol.
Bem, vou começar por O Gênio do Crime – Uma Aventura da Turma do Gordo, um clássico que completa 45 anos em 2014! Relançado pela Global em 2005, com ilustrações de Mauricio Negro, ele conta a saga de uma turma de meninos que se vê envolvida em uma trama policial ao descobrirem a existência de uma fábrica clandestina de figurinhas de futebol. É para rir do começo ao fim. Reli adulta e talvez eu tenha me divertido ainda mais. O enredo começa com uma superpromoção de uma fábrica de figurinhas. Quem preenche o álbum, ganha prêmios. Mas a confusão começa com a produção das figurinhas falsas e uma revolta da garotada contra a fábrica das originais. Quatro crianças, no entanto, começam a investigar a história e, encabeçadas pelo sagaz Gordo, bolam um plano incrível para resolver o caso.
Adoro como a narrativa nos permite mergulhar tão profundamente na forma de pensar dos garotos e como a história alterna realidade e fantasia sem que a gente perceba, proporcionando aqueles deliciosos momentos de “ah, vai, isso não seria possível” que funcionam como condutor da aventura e não como desmancha-prazeres. Você lê e quer mais. Tanto que esta é só a primeira de uma série de grandes aventuras que marcam a literatura infantojuvenil brasileira.
Vejam aqui o autor falando do livro em uma entrevista à TV Cultura:
O Presente é totalmente diferente (quantas rimas!). Mas é a pura verdade. Trata-se de um livro de imagem, foi lançado em 2010 e o foco não são as figurinhas, mas, sim, a camiseta amarela, a amada camiseta amarela da Seleção Brasileira. A história de Odilon Moraes, um dos nossos principais ilustradores, é de identificação fácil: começa com um garoto ganhando de presente uma camiseta da seleção. Devidamente uniformizado, ele parte para a torcida na rua e depois em casa, para assistir a uma partida de copa do mundo. As lindas cenas uma a uma nos levam à emoção que o esporte provoca, a vibração coletiva, a apreensão dos lances e a cumplicidade da derrota. A cada momento, vemos personagens e cenários em um risco azul e somente os amarelos das camisetas e a bandeira brasileira em destaque.
Mas a derrota não é o final da história (nunca é, certo?). O menino entristece, fica sem apetite e sem ânimo. Mas um amigo o convence a sair de casa e encarar uma pelada. E alguém aí duvida do que um belo gol pode fazer?
Duas narrativas diversas, mas que falam de sonhos, de amizade, de estar junto. Acho que ambas, cada uma à sua maneira, podem também povoar estes tempos de Copa do Mundo, de tradição e paixão.
O Gênio do Crime (Ed. Global)
textos de João Carlos Marinho
ilustrações de Mauricio Negro
1969/2005
O Presente (Ed. Cosac Naify)
ilustrações de Odilon Moraes
2010