Meu encontro com Às vezes, de Claudia Rueda

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ASVEZESACASATOMBADA

Em julho de 2015, dois amigos meus inauguraram um espaço no bairro de Perdizes, zona oeste de São Paulo, chamado A Casa Tombada – Lugar de Arte, Cultura e Educação. Além de cursos de extensão e conversas sobre as urgências da nossa vida em comum (principalmente nos desafios urbanos), o espaço abriga duas pós-graduações lato-sensu: uma é A Arte de Contar Histórias – Abordagens Poética, Literária e Performática, voltada para a pesquisa e encontro com a oralidade, acontecia já em outros espaços, está na nona turma e é pela qual tenho, com muita alegria, minha especialização; e a outra é a recém-criada O Livro Para a Infância – Textos, Imagens e Materialidades, voltada para quem trabalha na rede de produção e promoção do livro, projeto que sigo feliz em parceria na coordenação com Giuliano Tierno, que criou a primeira pós e é um dos fundadores da Casa. (ALIÁS… INSCRIÇÕES ABERTAS ATÉ 12 DE FEVEREIRO!!!)

Acima de tudo é um lugar para encontros especiais.

Neste julho de 2015, mais precisamente na inauguração da Casa, dia 18, estava eu em pleno deleite da festa quando uma amiga querida, a narradora de histórias Renata Truffa, me chama baixinho: “Cris, senta aqui. Você conhece este livro?”. Eu olhei surpresa pois, como “representante” do linha “livro para infância” da lugar, a maioria dos livros que estava ali eram meus ou do acervo da Casa e que eu conheceria. Mas ela segurava o livro Às Vezes, da colombiana Claudia Rueda, editado aqui em 2013 pela Pensarte, que hoje está na editora MOV Palavras, que ano passado divulgou um poderoso acervo com autores brasileiros e estrangeiros e um olhar cuidadoso para o livro ilustrado (veja mais sobre ela aqui).

– Não conheço. – respondi para Renata. Peguei o livro que vi que a autora já me era muito querida desde 2010, quando conheci seu maravilhoso livro Formas (lançado depois no Brasil pela editora Hedra), em uma viagem a Argentina.

– Então leia. – recomendou minha amiga.

Foi uma surpresa. Estava eu preparada mais para apresentar do que para ser surpreendida naquele dia. Na capa, a gente vê um pedaço do que poderiam ser dois olhos, mas não fica bem claro. A guarda-capa do livro apresenta um prateado com espirros de tinta. É o que parece. A seguir, na página que normalmente vem repetido o nome do livro, vemos o nome impresso invertido. Na primeira dupla com a narrativa, de um lado, a frase:

 

Às vezes você se afoga numa gota.

 

Do outro, uma moldura e um pedaço de espelho reflete uma menina. Segue:

 

Outras, um oceano fica pequeno.

 

E o pedaço de espelho cresce para fora da moldura e a menina cresce também. Para gente.

 

Às vezes cai uma tempestade e não te molha.

 

E a menina reflete satisfeita, segura.

 

E outras, uma brisa te derruba.

 

E, desta vez, o reflexo está mais quebrado, agoniado.

 

ASVEZESDENTROK

O livro segue este sobe-e-desce de sentimentos, sempre na poesia da palavra de um lado, e na imagem da emoção do outro. A representação no texto e na ilustração nos pega no sufoco e no alívio, em um jogo de realidade e metáfora feito dia-a-dia, feito convivência, feito tentativa de entender quem somos. Quando pensamos que o jogo é para olhar a si mesmo (e, para mim, é, sempre é), a autora nos dá uma outra chance no final do livro. Outra chance de nos reconhecer. Que me fez lembrar de uma frase do filósofo francês Michel de Montaigne (apresentada pela minha mestra Luiza Christov): “Eu nunca vi um monstro ou um milagre maior do que eu mesmo”.

ASVEZESCAPAOK

Às Vezes (Pensarte/MOVPalavras Editora)

De Claudia Rueda

Tradução Mariana Marconantonio

2013

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