Bruxa, bruxa, venha à minha festa
O ratinho, o morango vermelho maduro e o grande urso esfomeado
A velhinha que dava nome às coisas
Quando mamãe virou um monstro
Carona na vassoura
O Grúfalo
Guilherme Augusto Araújo Fernandes
O homem que amava caixas
Ana, Guto e o gato dançarino
Petro e Tina – uma amizade muito especial
Está boa esta lista de livros para você? Sabe o que eles têm em comum? Sim, são todos livros estrangeiros. Sim, são todos maravilhosos. Sim, todos foram lançados aqui no Brasil pela editora Brinque-Book. E, finalmente, sim, todos eles foram traduzidos por Gilda De Aquino. Basta pouco tempo lidando com livros infantis no Brasil para dar de cara com o nome dela em várias edições. E, como sempre quis bater um papo com uma tradutora de livros infantis, convidei Gilda para responder a algumas perguntas. A alguns dias da Feira do Livro Infantil em Bologna (na Itália e eu estarei por lá), me inspirei a conversar sobre o assunto, pois nestas exposições nascem ótimas parcerias de traduções. E, como o Brasil é o país homenageado, quis saber da Gilda, que sabe muito da produção estrangeira, o que ela acha do que fazemos aqui em nosso país.
ESCONDERIJOS: Gilda, quando começou sua história como tradutora? E quando foi que entraram os livros infantis?GILDA DE AQUINO: Obrigada por seu interesse pela minha vida profissional como tradutora. Sou professora universitária de inglês aposentada, e comecei minha história fazendo tradução simultânea em congressos internacionais no Rio de Janeiro nos anos 50. O inglês é praticamente minha língua materna, já que fui alfabetizada neste idioma. Também morei nos Estados Unidos e cursei uma universidade lá. Em 1991 quando minha filha, Suzana (Sanson), fundou a Brinque-Book fui ajudá-la no que fosse preciso e, assim que ela começou a adquirir na Feira de Bologna os direitos autorais dos livros infantis, passei a fazer as traduções dos mesmos.
ESCONDERIJOS: Você traduz em quais idiomas?
GILDA: Eu traduzo em inglês e em francês, apesar de também falar alemão, não me sinto apta a fazer traduções deste idioma. Traduzi aproximadamente 80% dos livros estrangeiros da Brinque-Book até agora.
ESCONDERIJOS: Qual é o seu maior desafio na hora de traduzir? Existe algo recorrente, pelo menos em determinado idioma, quanto às palavras?
GILDA: Meu maior desafio na hora de traduzir são os textos rimados. Ter de manter o tamanho das estrofes, manter a cadência e fazer a rima sem mudar a harmonia do texto original. O mais recorrente no idioma inglês e que atrapalha um pouco a tradução, é o apóstrofe, especialmente o apóstrofe ‘s muito recorrente na língua inglesa.
ESCONDERIJOS: E, pensando no politicamente correto ou incorreto, ou nas exigências da editora, existe algum desafio específico por se dirigido a uma criança?
GILDA: Quanto às exigências da editora, o único desafio é manter-me sempre fiel ao imaginário do autor, sem mudar o sentido do texto, procurando usar palavras adequadas às diferentes faixas etárias do publico infantil.
ESCONDERIJOS: Você faz alguma pesquisa sobre a cultura do país do autor?
GILDA: Na hora de traduzir procuro me informar bastante sobre o autor e a cultura de seu país pois isto influencia muito no modo de escrever de cada um.
ESCONDERIJOS: Neste tempo de trabalho, você tem algum escritor estrangeiro favorito? Do tipo “ai, que bom, mais um livro dele!”? (rs)
GILDA: O escritor que eu mais amo traduzir é o Colin Thompson (Como Viver Para Sempre, O Violinista, A Vida Curta e Incrivelmente Feliz de Riley) pois ele apela de uma forma meio surrealista para a imaginação da criança. Aliás, uma situação inusitada aconteceu justamente ao traduzir o Como Viver para Sempre, pois numa das páginas a ilustração mostra uma estante de uma biblioteca onde existem cinco livros de culinária cujos títulos tinham de ser todos com a letra ‘Q’. Tive de quebrar a cabeça para inventar, mas acabei conseguindo. Por exemplo: Quitutes de Quitéria, Queijadinhas, Quibebe, etc. Não só os textos dele são incríveis, bem como as ilustrações onde a criança pode passar horas descobrindo detalhes quase escondidos.
ESCONDERIJOS: E você também escreveu seu próprio livro, certo? São quantos? Isso mudou alguma coisa na tradução?
GILDA: O primeiro livro que a Brinque-Book lançou foi o Brinque-Book Com as Crianças na Cozinha, que eu escrevi baseado no meu amor pela culinária e por ter na época sete netos que adoravam fazer “comidinhas de verdade” na cozinha. Até hoje este livro faz sucesso, pois as receitas são fáceis, rápidas e funcionam mesmo. O segundo livro que escrevi foi inspirado pela perda de minha neta, numa madrugada em que vi o sol nascer enquanto a lua ainda estava no céu. Chama-se Por Que o Céu Chora. Fiquei muito emocionada ao ser convidada a assistir uma adaptação dele numa peça infantil em uma comunidade bem pobrezinha de Pedro do Rio, aqui perto de Petrópolis, onde moro. As fantasias eram de papel, os cavalos eram crianças com máscaras de cara de cavalo feitas por elas mesmo; e a carruagem que os ‘cavalos’ puxavam, era um carrinho de mão de jardim. A sala de leitura desta escola paupérrima tinha um tapete velho no centro onde as crianças fingiam voar pela janela enquanto ouviam histórias. Que bom que ainda existem professoras dedicadas que ajudam as crianças a viajar pelo mundo encantado dos livros.
ESCONDERIJOS: Semana que vem começa a Feira do Livro Infantil de Bologna e o Brasil vai ser homenageado. Você, lendo profundamente tantos livros estrangeiros, consegue perceber alguma característica peculiar dos livros brasileiros? Do tempo que começou para cá, acredita que algo mudou, que melhoramos de alguma forma?
GILDA: Sim, acredito piamente que o Brasil vem melhorando muito no campo da literatura infantojuvenil. Hoje há uma oferta maior por parte das editoras e as escolas trabalham com mais leituras com as crianças. E também em casa, elas são incentivadas a manusearem os livros desde a mais tenra idade, bem antes de serem alfabetizadas. Há a leitura compartilhada e até os “e-books” que, com certeza, estimulam o gosto pela leitura.
3 traduções de Gilda que você não pode perder:
Bruxa, Bruxa, Venha à Minha Festa
Escrita por Arden Druce e ilustrada por Pat Ludlow, o livro mostra uma menina que chama uma série de seres assustadores para a sua festa. Mas tem uma surpresa, claro. Um jeito delicioso de abordar o medo com os leitores (e descobrir até onde a imaginação pode nos levar!). Um clássico mundial.
É um dos mais emblemáticos livros do australiano Stephen Michael King. Com poesia nas poucas palavras e nas belas ilustrações, ele mostra a história de amor entre um pai e um filho. Para ler e reler sempre que puder.
A Velhinha Que Dava Nome às Coisas
A escritora Cynthia Rylant e a ilustradora Kathryn Brown contam aqui a emocionante história de uma velhinha que dava nome a tudo que pudesse durar mais do que ela, como a casa, o sofá, o carro. Mas o medo do apego lhe prega uma surpresa que faz tudo mudar na vida da adorável senhora.