GESTOS MIÚDOS DE UMA LIVRARIA

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Aqui em São Paulo, nesta cidade das imensidões, estamos acompanhando uma livraria nascer: a Livraria Miúda, que abre suas portas amanhã, 16 de outubro! O autor e estudioso de livro para a infância, Yuri de Francco, vive esta novidade bem de pertinho e convidei para que ele nos contasse tudo aqui

POR YURI DE FRANCCO*

Miúda

Substantivo afetivo

  1. lugar de livros, encontros e cafés;
  2. espaço coletivo.

 

Uma livraria é feita do quê? De livros, muitos dirão.

Sem dúvida, mas não só.

É feita de tijolos, cimento, madeiras, afetos, pessoas, suor, incertezas, sonhos, projeções, erros, acertos, diálogos, ansiedades, discussões, encontros, cafés, olho no olho, cheiros e sons. E de livros, livros e livros.

Mas o que ela pode vir a ser?

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Tenho acompanhado os primeiros passos da Livraria Miúda, que nasceu depois de anos de gestação. Conduzida com todo cuidado por duas mulheres educadoras e apaixonadas pela infância, Júlia Souto e Tereza Grimaldi, a Miúda quer dialogar. É café, é lugar de encontros entre crianças e adultos, é lugar para discutir questões que cercam a literatura para a infância, é lugar de ocupar.

O espaço físico já nos dá pistas sobre essa nova livraria: uma casinha no meio de um bairro residencial que, para a realidade da cidade de São Paulo, tem se tornado cada vez mais rara. Tem um ar de resistência desde a porta de entrada, que imediatamente nos transporta para outro tempo. É uma casa. Casa. O que essa palavra lhe suscita? A mim, provoca sensações e memórias. Afasta-nos imediatamente de uma relação predominantemente comercial e convida-nos a entrar, nos sentarmos, tomar um café e vivenciar a literatura. É disso que estamos falando, de passar por uma experiência.

Conceber uma livraria no meio de um bairro como o da Pompéia, em São Paulo, é um ato de amor. É um gesto de cuidado com a cidade. Uma tentativa de propor diversidade e ganhar conversas.

Mas, então, o que uma livraria pode vir a ser?

Pode transbordar.

Gosto de dizer que o livro é um objeto em movimento. Só existe na medida em que alguém o abre, que alguém o lê. É um objeto estático, mas em constante transformação. E, vejam vocês, o nascimento da Livraria Miúda começa no abrir de um livro, num apaixonar-se, num sonhar, num querer de duas educadoras que amam a infância.

É sonho, claro que é. E que bom que é! Como seria um mundo sem sonhos?

A poucas semanas da abertura, fui conversar com elas, numa tarde de quarta-feira, entre caixas de livros, parafusos, cheiro de tinta e desejos infinitos. E muito descobri sobre essa longa trajetória.

No final de 2018, Júlia teve a ideia de abrir um espaço onde a arte e a infância fossem protagonistas. O caminho até a literatura foi muito natural por uma característica essencial: as tantas possibilidades artísticas que o livro para a infância contemporâneo carrega em seu fazer. Professora e coordenadora pedagógica de educação básica por anos e mãe de dois, Júlia acredita que a criança e a arte só podem estar juntas.

Foram semanas, meses e anos de gestação. Caminhos, por vezes, tortuosos, mas que, em 2020, levaram Júlia ao reencontro com Tereza, sua amiga de longa data. Tereza é professora de crianças e tem alma de artista, além de ser uma alquimista de sabores. Ser também um café foi uma escolha precisa para dar o tom do espaço – um lugar para ficar, passar um tempo, ter bons momentos e lembranças. Conversar. Parar.

Tereza Grimaldi e Julia Souto e porta hipnotizantemente azul da Livraria Miúda
Tereza Grimaldi e Julia Souto e porta hipnotizantemente azul da Livraria Miúda

As duas criaram um espaço que é, essencialmente, o que elas são. Toda a bagagem e história de anos construídas pelas duas passeia pela livraria e, mais do que isso, é compartilhada amorosamente com as pessoas, seja na disposição dos espaços, na curadoria, nos sorrisos, em cada detalhe. É um espaço de conviver, ler, estudar, pesquisar, comer, papear e fantasiar.

Assim é a Livraria Miúda.

A abertura é um retrato dessa caminhada que – para nossa sorte – agora fazemos parte.

Gosto de pensar que a mudança que a gente quer para o mundo não se faz na força, nem de uma hora para outra. Se faz pouco a pouco, sem pressa, com muita escuta e presença.

A mudança é miúda e, ao mesmo tempo, gigante.

Vamos tomar um café?

LIVRARIA MIÚDA – ABRE-PORTAS 16 E 17 DE OUTUBRO, DAS 10H ÀS 17H 

Rua Coronel Melo de Oliveira, 766 – Pompeia – São Paulo

acompanhe tudo no Insta @livrariamiuda !

Yuri de Francco é autor de livros para a infância, mediador de leitura, professor e ator. Seu livro “O menino que virou chuva” (Editora Caixote) em parceria com Renato Moriconi foi premiado pela Revista Crescer, através da lista dos 30 melhores livros do ano de 2021 e com o selo “Altamente Recomendável” da FNLIJ.

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