ACAMPATÓRIO, o novo da Cia Truks

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Conheço a Cia Truks desde sempre. Não, eu não estava próxima deles, não. Mas esta é uma sensação forte que tenho: como se a Cia Truks de Teatro de Bonecos – fundada e dirigida pelo ator, bonequeiro, escritor e educador Henrique Sitchin – sempre houvesse existido. Desde que você se dá conta de que a boneca da Bruxinha a sua autora, Eva Furnari, criou com eles… ou quando se lembra das belíssimas cenas de Cidade Azul, O Senhor dos Sonhos, Vovô… ou quando revive as risadas em Zôo-Ilógico… ou… ou quando você assiste o mais recente espetáculo, aquele que foi criado há pouco tempo, fresquinho, novo… Novo. Mas que você tem a sensação de que sempre existiu.

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São – juro, me perdoe Roberto! – tantas emoções. Acampatório, o novo espetáculo da Cia Truks, em cartaz até dia 26 de setembro, é uma sucessão de emoções e de vidas. Emoções diversas e vidas assim como as nossas, assim como elas são e a gente vive esquecendo. No palco, três divertidos amigos – interpretados pelos excelentes Gabriel Sitchin, Rafael Senatore e Rogério Uchoas – vão acampar juntos! Chegam diante da plateia com suas mochilas, barracas e vestimentas de quem está preparado para um magnífica aventura. Mostram o que tem para comer, como vão dormir, o que planejam fazer. Mas este piquenique selvagem tem muitos acontecimentos: desde quase perda total das comilanças por um exército de formigas, até o ataque de tubarão. O que? Exército de formigas tem em toda história de piquenique? Com certeza não como nesta. Oi? Ataque de tubarão em um acampamento? Pois é: é assim que se conta uma história na Cia Truks.

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O nonsense e o real se misturam e brincam com a gente. As crianças na plateia deliram: não param nas cadeiras, não querem perder nem um lance, gargalham. Os adultos assistem encantados, em poucos minutos entregues ao deleite de uma boa história narrada praticamente sem falas e, de alguma forma, voltam para um lugar que nunca deveriam ter deixado: a imaginação. Em Acampatório, os atores usam o que se chama de “teatro de objetos”. A Truks prefere chamam “teatro com objetos”, o que faz todo sentido. Sentido? Ah, esta é uma brincadeira importante: o que era passa a ser sempre outra coisa. A partir de um cantil e duas canecas, vemos uma vaca; três pés de patos e snorkels aparecem-nos como três cantores; dois cachos de bananas se transforam em pés de caranguejo e a brincadeira é sempre tão esperada e excitante que minha filha Clarice, de 3 anos, vira para mim e pergunta: “Mãe, e agora, o que vai virar isso?”, assim que avista um objeto novo chegando.

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A gente pode rir muito, mas muito mesmo. Rir de chorar. Os atores são cômicos e as cenas transformadas dão sempre uma mistura de “óooooooooh” com “não acredito!”. Dá uma vontade de correr para casa e brincar. Brincar, lembra?

Mas a Truks e Henrique sabem seu papel no nosso planeta. Sabem que são poetas. E que a poesia também nos alcança para nos tornar outros. De uma peteca que vira índio, o grupo nos dá um golpe de consciência em nossos corações, uma sensação de “está tudo errado”, como definiu minha irmã Denise, que nos acompanhou. O final também é extremamente emocionante: nos coloca em uma espécie de catarse para reconhecer a vida, as vidas ou que é, realmente, CONVIVER e valorizar o outro. Da lista de coisas que a gente vem esquecendo. A Truks não tem medo de jogar emoção nas crianças. Não se importa se ela chora ou se inclina a cabecinha de lado, sentindo a beleza da compaixão com um personagem (é sempre a mais comum reação da minha filha). Porque ela aposta que cada um de nós sempre pode ser mais e que a tristeza muitas vezes nos dá a mão nesta virada. As pessoas “ainda não foram terminadas”, como diz Guimarães Rosa. Sempre podem se transformar. Feito um teatro com objetos. Feito poesia. Feito ser humano.

 

Acampatório – Cia Truks de Teatro de Bonecos

Onde: Sesc Consolação/Teatro Anchieta – Rua Dr Vila Nova, 245 – (11) 3234 3000 – São Paulo/SP

SÁBADOS ÀS 11H (duração 55 minutos)

ATÉ DIA 26 DE SETEMBRO

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