A Lição das Árvores

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ALICAOARVORESENRICOPAOLASe a gente pode “gostar de um livro pela capa”, é o caso deste que tenho em mãos agora. O que? Ah, não é exatamente este o ditado? Mas vale a brincadeira com ele. A Lição das Árvores, escrito pelo italiano Roberto Parmeggiani e ilustrado por seu conterrâneo Attílio Palumbo, conquista na capa, que tem uma moldura com os nomes dos autores e, no meio, o título e uma ilustração, uma belíssima mostra dos desenhos que compõem a história.

Desde a primeira página, o que se vê é um desfile de delicadezas. Os italianos nos contam a história de Enrico e Paola, dois amigos de escola que têm gostos e hábitos bem diferentes. Mas não é isso que chama a atenção do menino. Enquanto Enrico é um perguntador sem freio, Paola não pergunta nada. Paola não fala. O menino desenha borboletas para a menina e ela retribui com sorrisos. Eles constroem uma linda relação no silêncio e, claro, nasce no menino um senso de proteção. Os outros colegas não lidam bem com o jeito dela e é aí que Enrico pede ajuda de um professor bastante especial.

– Professor, posso te perguntar uma coisa?

– Claro, diga-me.

– Somos todas iguais?

– Quem?

– Nós, as crianças! Somos todas iguais?

– Não, claro que não.

– Então, todas nós somos diferentes?

– Bem, não, não exatamente.

– Mas, então… Paola é igual ou diferente de mim?

O professor coça o queixo, franze a testa, olha para o alto, abre os olhos e, em seguida, responde:

– As crianças são como árvores.

 

E é deste ponto em diante que a história vira. Eu, particularmente, tenho sempre receio de livros infantis que abordam preconceito e e o tal “como lidar com as diferenças”. Mas eu absolvo todo e qualquer livro que tenha a poesia como forma de nos conduzir. O professor descorre para Enrico uma série de características de diversas árvores comparando-as com as crianças (adultos também, por que não?), e o que o leitor presencia é uma riqueza de vocabulário embrulhado de maneira leve para abordar um assunto tão mal difundido (o tal bullying, nem gosto mais de escrever esta palavra). Não tem lição de moral, mas tem provocação para refletir. Ele não diz um “tudo bem ser diferente”, algo muito difícil de se entender. Mas sugere que a gente esteja disposto a olhar para o outro, pensar sobre. O que já é bastante coisa.

O escritor, experiente em trabalhar com crianças com deficiência, se inspirou nisso para tratar do assunto com literatura. E o ilustrador se esbaldou no tema e criou desenhos vivos que brincam de esconder e revelar, alternam movimento e espera, cores e sombras. Por tudo que ele apresenta, acho que vale a pena enfrentar o assunto “respeito às diferenças” com ele por perto. Desde, claro, que o leitor tenha a chance de saber que não o assunto sempre pode ser mais complexo do que aparenta uma solução.

 
ALICAODASARVORESCAPA
A Lição das Árvores (Ed. DSOP)

textos de Roberto Parmeggiani

ilustrações de Attílio Palumbo

2013

 

palpite: para crianças de 4 a 100 anos

1 COMENTÁRIO

  1. Apaixonei-me pelo livro. Sugeri para adoção, e fugiu-me o autor, título, editora. Agora recuperei as informações, obrigada.
    Trabalho, voluntariamente, com estimulação à leitura. estou sempre “garimpando” livros adequados aos meus clientes. Este me encantou e gerou um projeto de trabalho. Só falta aprovação pedagógica.
    Obrigada

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