Aqui no Brasil, quem trabalha com literatura infantil sonha em ir todos os anos para a Feira do Livro Infantil em Bologna, na Itália. Estive lá ano passado, e é realmente maravilhoso. Para falar sobre a versão da feira deste ano, convidei o escritor Roberto Parmeggiani, que nasceu e mora em Bologna e que tem uma carreira lá e aqui no Brasil, com dois livros lançados aqui pela editora DSOP, Lição das Árvores e o Avó Adormecida (que ele lançou na feira pela Kalandraka!), ambos pela editora DSOP, e que já prepara mais um, pela recém-lançada editora NÓS. Vejam este apaixonado e lúcido depoimento sobre a mais importante feira de livros infantis do mundo
Se tivesse que escolher uma palavra para descrever o que foi, este ano, a Feira do Livro Infantil de Bolonha, que aconteceu na cidade italiana de 30 de março a 2 de abril, sem dúvida escolheria a palavra espanto.
E claro, dentro desta palavra se mistura a minha experiência como autor, como leitor e como morador da cidade que hospeda a feira.
O espanto representa para mim uma das mais importantes habilidades e características humanas. É a capacidade de responder ao que acontece ao seu redor, de descobrir a beleza que nos cerca, de entrelaçar relações com o mundo e, enfim, de ver a realidade com um outro olhar.
Qual momento melhor se não uma feira de livro infantis para se espantar?
O que me suscitou mais espanto foram as tantas pessoas que visitaram os pavilhões da feira e que, também segundo os dados oficiais, foram mais que o ano passado.
Claro, não se trata só de números. Mas também do desejo perceptível de descobrir, aprofundar, conhecer o que o mundo da literatura infantil ainda pode oferecer. A confirmação, como se ainda precisássemos disso, de que a literatura faz parte da vida das pessoas e é importante como a comida, o futebol ou o namorar.
Pessoas, olhares, palavras, relações, experiências e esperanças.
Editores, ilustradores, escritores e leitores, protagonistas, não só da publicação de bons livros, mas também da construção da sociedade que queremos para o nosso futuro.
Outra coisa que chamou a minha atenção foi o mural dedicado à exposição de diversas ilustrações que, a cada ano, permite a ilustradores, mais ou menos conhecidos, de propor o próprio trabalho. Foi muito bom parar na frente de algumas delas, deixar a mente descansar e viajar em vários lugares desconhecidos, encontrar pessoas, personagem e animais fantásticos, descobrir como o percurso da ilustração profissional está conseguindo integrar, sempre mais, a estética com uma comunicação emocional eficaz.
Espanto, porém, é também ver como, apesar de estarmos passando por uma crise econômica muito importante, a resposta que o mundo literário infantil está tentando de dar não é “menor qualidade, por menor custo”, mas “maior qualidade, para maior cultura”. Porque a resposta para esta crise está em um aumento do saber, das competências, da pesquisa, da consciência social e ecológica. Da diversidade da proposta, seja no conteúdo e na forma do texto, nas diferentes técnicas utilizadas para realizar as imagens. Ter bons livros e boas palavras, significa ter bons leitores e, consequentemente, pessoas mais conscientes.
Enfim, o espanto maior. Nesta feira, nos pavilhões, na livraria internacional mas também nesta cidade, nas suas ruas, sob os pórticos, você encontra o mundo. Pessoas de qualquer parte que se encontram ao redor dos livros, seja por interesse comercial seja pelo amor da literatura como arte e jeito de viver.
![Roberto Parmeggiani com a versão italiana de seu A Avó Adormecida, na Feira de Bologna 2015](http://esconderijos.com.br/wp-content/uploads/2015/04/BOLOGNA2015ROBERTO1.jpg)
Gosto de pensar que isto possa ser uma antecipação de um mundo futuro possível, no qual as diversidade estão juntas, no meio de muitas cores, falando uma língua universal e com uma atenção especial para a parte melhor de nós: as crianças.