8 RAZÕES PARA NÃO PERDER OS BEATBUGS

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A animação de produção da Netflix inspirada nos Beatles está na segunda temporada e faz a melhor mistura possível de INSETOS, BEATLES E (boas) MEMÓRIAS

Já adulta, dando valor à memória de infância, uma vez comentei com meu irmão: por que será que o que eu mais me lembro de Beatles na infância é o álbum Abbey Road? E ele respondeu rápido: porque por muito tempo este era o único LP que a gente tinha em casa.

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Hoje está tudo bem diferente. Naquela época, meu irmão Jonas ia escutar os outros discos nas casas dos amigos ou se embrenhava pelas coleções e raridades do fã-clube Revolution, do superfã dos Beatles, o Malagoli. Voltava para casa com fitas K-7 que mais pareciam tesouros, cheias de gravações piratas, tudo datilografado na capinha branca. Os outros discos foram chegando e eu fui crescendo para entender o que aquilo ali significava, ao mesmo tempo em que ia criando certa independência para mexer nesses e em outros LPs: a fabulosa arte de colocar um disco na vitrola e manusear a agulha para ouvi-lo.

É, hoje está bem diferente. Temos todos os Cds dos Beatles disponíveis em várias plataformas. As “gravações piratas” estão todas em Cds oficiais. Minha filha Clarice, aos 4 anos e meio, tem Beatles na sua lista de canções criadas no celular do pai, compartilhadas ao celular da mãe, via Spotify. Estão ali, ao lado da Palavra Cantada, dos forrós com produção de Zé Renato, a trilha de Os Saltimbancos, Better When I’m Dancing (de Megha Trainor, a canção principal de Snoopy & Charlie Brown – Peanuts O Filme), UpTown Funk com Bruno Mars, Sugar e outras do Maroon 5…

Ela ouve Beatles desde antes de nascer, uma vez que já fazia parte da vida da família toda. Mas a primeira canção que ela pediu para “ouvir de novo” foi “Blackbird”, “a música do passarinho”, dizia ela, acredito que com pouco mais de 2 anos. Pouco tempo depois ela encanou em “Yellow Submarine” (ou “sambaurine”, como ela ainda diz) e “Hello Goodbye”, ambas parte do repertório de educação musical da escola. Tempos depois, uma viagem à praia foi regada a muito “Hey Bulldog”, e por aí foi…

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… e foi até quando a Neftflix lançou a série de animação BeatBugs, uma parceria Austrália-Canadá, criada pelo australiano Josh Wakely. A turma de amigos-insetos que vive aventuras – e algumas desventuras inclusive – tomou conta do repertório da Clarice, tanto no que diz respeito ao vocabulário, argumentos para situações de conflitos do dia-a-dia, brincadeiras e diversas ações entre amigos, quanto, claro, às canções dos 4 garotos de Liverpool.

Aqui vão meus 8 motivos para vocês assistir aos Beatbugs!

  1. A cada episódio, uma música diferente

O desenho atende a dois tipos de espectadores: o fã dos Beatles – que quer ter contato com tudo que aparece a partir das música da banda-mais-importante-do-planeta -, e também daquele que não conhece bem o repertório (como são 2 canções por episódio, ao todo temos até então 52 músicas disponíveis!).

  1. Personagens fortes e em equilíbrio para a questão “educativa” das tramas

Os cinco personagens principais – há muitos outros que encontram os protagonistas ao longo das temporadas – Jay, Kumi, Crick, Walter e Buzz são especiais, com potências em suas diferenças, fáceis de a criança se identificar e com conflitos e virtudes. O besouro Jay faz o garoto destemido sempre pronto para a aventura; a joaninha Kumi é a menina que mistura prudência e espírito fraternal com uma imaginação inspiradora; o grilo Crick é o inventor que, mesmo sendo um pouco inseguro, está sempre pronto para encontrar soluções; a lesma Walter interpreta o dramático do grupo mas sempre o mais amoroso e, por fim, a mosquinha Buzz é a pequenininha da turma, que arranca as risadas do espectador com suas reações cheias de ingenuidade. Todos se ajudam e gostam, como uma boa turma de crianças pode ser na TV, mas também se estranham, se magoam e erram… como uma boa turma de crianças PODERIA ser na TV.

  1. Arranjos criativos e respeitosos

Um pânico de fã dos Beatles é como as canções possam ser apresentadas. Eu já abominei alguns Cds para crianças que diminuíam a potência musical das músicas em nome de ser “mais simples pois é voltado para bebês”. Aqui não: os arranjos são belíssimos – a abertura pertence a All You Need Is Love e há uma vinheta que entra vez ou outra no desenho, de alguns segundos, com um vocal emocionante! – e com participações de grandes nomes do pop e rock, como Eddie Vedder (em Magical Mystery Tour), Pink (em Lucy in The Sky With Diamonds), Chris Cornell (em Drive My Car) e Rod Stewart (em Sgt Pepper’s Lonely Hearts Club Band)!

Confira um trecho:

  1. Roteiro de qualidade

Quem é fã de Beatles (ou de qualquer grande ícone cultural) sempre teme que o motivo se sobreponha à excelência do que sai do, digamos, licenciamento. E a visão que algumas pessoas têm de infância também sempre pode resultar em um enredo empobrecido, com situações politicamente corretas ou tolas, como ocorre em tantos desenhos voltados para as crianças. Mas os Beatbugs esbanjam qualidade técnica e de histórias, propondo ao espectador boas reflexões, muita diversão e entretenimento de qualidade.

  1. Zelo na interpretação da canção e da história narrada

Até pelo motivo citado acima, o desafio dos produtores é gigantesco na escolha das canções. Isso porque se eu estou dizendo aqui que cada episódio traz uma música é justamente porque é a canção que influencia a história. Por exemplo: o primeiro episódio chama-se Help e a canção é interpretada pelo pequeno inseto Jay quando ele fica preso em uma garrafa de vidro esquecida no jardim. Em Drive My Car, a turma cruza o caminho com um carrinho de controle-remoto que eles não sabem quem o controla. Sim, os dois seriam um tanto literais à letra, mas há muito espaço também para a subjetividade, como em Lucy In The Sky With Diamonds que trata da capacidade de sonhar ou em Penny Lane, em que Crick se sente com pouca atenção do grupo e os amigos decidem criar um lugar para homenageá-lo.

Confira trecho de Lucy:

 

  1. Repertório além dos hits

Se você está pensando em encontrar só os grandes hits dos Beatles, fique feliz, eles estarão lá! Tem estes que eu já citei, tem Come Together, tem Blackbird, tem Strawberry Fields Forever, tem Ticket to Ride! Mas há surpresas incríveis que, talvez, as crianças viessem a conhecer depois, os “lados B” como Doctor Robert, Why Don’t We Do It In The Road?, I Call Your Name (um dos meus arranjos preferidos!) e And Your Bird Can Sing! É demais ver essa meninada cantando isso na sala, acredite!

  1. “Ecologia” sem ser chato

Se tem um tema que as pessoas adoram atazanar as crianças é o “cuidar do planeta”. Meu mau humor é porque, na maior parte das vezes, o que se produz para inspirar as crianças a ter uma relação sustentável com o mundo é sempre de uma chatice sem fim. Não à toa, os pequenos crescem e tudo se esvai. Os Beatbugs, claro, têm esta preocupação e colocam na perspectiva dos insetos – daquele que é menor, do desprezado, etc – a complexa relação com os humanos, que aparecem algumas vezes nos desenhos e que são o grande perigo para os pequenos bichos. No entanto, a menina que mora na casa sempre deixa um gostinho de fantasia na história, nos permitindo a dúvida de se ela sabe ou não o mundo de aventuras que existe tão perto de onde mora.

  1. Só aqui, no Brasil, você ouve a Buzz e seu “INCRÍIIIIIIIIIIIVEL!”

Os episódios, claro, têm uma ótima dublagem em português. As canções, não: tudo no original, sem perder a beleza de da oportunidade de aprender um idioma além do nosso. Mas por mais que o original tenha criado o “Awesome” como bordão da pequena Buzz, é só na dublagem brasileira que ela ganhou o INCRÍIIIIIIIVEL, na voz de Flora Paulita. Já virou mania na minha família toda!

Ps para o futuro: Josh Wakely tem, além dos Beatles, direitos para a TV também das canções da Motown e Bob Dylan. Vamos torcer para que venham mais novidades por aí?

Bastidores e entrevistas:

Trailer oficial

 

Beatbugs, de Josh Wakely

Série exclusiva Netflix

2016

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