Olivia Não Quer Ser Princesa

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Adoro livro-surpresa. Não, não estou falando dos livros brinquedos, livros com pop-up, livros com jogos, etc. Estou falando daqueles livros em que você tem cer-te-za de que é sobre um assunto ou, que tem determinada “mensagem” e aí, quando chega ao final, é outra. Este novo volume, Olivia Não Quer Ser Uma Princesa, da porquinha irreverente Olivia, série do norte-americano Ian Falconer, brinca com esta nossa “sabedoria”.

Olivia começa o livro deitada no chão. Sob o olhar de dúvida do cachorro e do gato da casa, o autor nos conta que ela está “arrasada”. Como Olivia é uma porquinha que sabe o que quer, já diz logo de cara para os pais:

– Acho que estou com crise de identidade.

– Não sei o que vou ser!

– Bem – disse o pai – você sempre será uma princesa!

– É esse o problema – disse Olivia. – Todas as meninas querem ser princesas.

E, então, ela começa a listar suas irritações: no aniversário de uma amiga, todas as meninas estavam de princesa com vestidos cor-de-rosa – inclusive alguns meninos; para a apresentação da escola, todas ensaiando o papel de fada das princesas; no Dia das Bruxas… bem, vocês já devem imaginar. Mas Olivia se vestiu de javali.

O que ela nos mostra é que tenta de todas as maneiras implantar um estilo próprio. É aí que Ian Falconer nos dá o traço típico de humor dele de todas as aventuras da porquinha, mas, desta vez, nos presenteando com uma bela homenagem à coreógrafa norte-americana Martha Graham, que marcou a história da dança moderna.

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Graham inventou um modo revolucionário de movimentar o corpo por meio da dança, de forma que revelaria a alegria, as paixões e os sofrimentos comuns a todos os humanos. Ou seja: cada movimento tem um significado. Em uma das duplas de páginas, ele desenha Olivia imitando uma série de movimentos da bailarina que ficaram famosos (da série lamentation, em que ela se movimenta dentro de um pano elástico) e, assim, ao mesmo tempo em que leva uma referência cultural ao leitor, demonstra o poder de uma expressão corporal. Ou seja: gosto muito do modo como ele coloca o questionamento da menina diante de uma sociedade que faz tudo igual de maneira sutil, clara e divertida. A referência se completa quando vemos um pôster de Martha acima da cama de Olivia.
Diante de tal procura de si mesma, a pequena porca perde até o sono tentando imaginar o que gostaria de ser quando crescesse. E, enquanto mergulha em diversas possibilidades, ela chega a uma grande conclusão. Conclusão esta que nos vale o livro! E nos deixa fechar a publicação com diversas perguntas: o que vale na busca por ser diferente (ou na obsessão por não ser igual) se não fizer realmente algum sentido? E como uma criança é capaz de absorver as divergências, os sentidos, as contradições de nossas sociedade? E, o mais importante: como ela mesma é capaz de julgar?

Ian Falconer lançou a personagem Olivia em 2000, inspirada no nascimento de uma sobrinha. São mais de 10 livros, todos um sucesso entre os pequenos, justamente por unir situações facilmente identificáveis do cotidiano, com questões também comuns típicas do desenvolvimento mental das crianças. Não à toa, a série ganhou uma versão em desenho para TV, que hoje passa no canal Disney Junior.

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Olivia Não Quer Ser Princesa (Ed. Globo/Globinho)
textos e ilustrações de Ian Falconer
2014

palpite: para crianças de 5 a 100 anos

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