Havia uma cidade, um cientista, um assistente de cientista, uma bruxa e, claro, um urubu. Ah, também havia o Ladislau, primo do cientista e que começa toda a história. Ele manda uma carta ao primo:
Primo Bóris,
Você não vai acreditar. Lembra que o vovô Petrônio vivia procurando um papel que ele tinha perdido, um manuscrito antigo com a fórmula mais cobiçada do mundo, o elixir da juventude?
(….)
Pois agora eu achei aquele papel, Bó! Pode acreditar, era tudo verdade! Ele estava perdido na própria biblioteca, dentro de um dicionário russo. Eu li a fórmula e não entendi nada, logo vi que era uma coisa pra você, que é cientista. Estou muito curioso para saber no que isso vai dar, não demore a responder.
Bem, como se trata de um livro de Eva Furnari, uma das principais autoras de literatura infantil no Brasil e uma mestre do nonsense, é claro que a história, a partir desta carta, só vira do avesso. Quando você termina de ler Bruxa Zelda e os 80 Docinhos está com aquela sensação de que acaba de sair de uma ventania, sabe? Uma ventania de criatividade, diversão e arte.
Bem, no decorrer da história, a gente descobre que o cientista Bóris ficou tão empolgado que não percebe quando o urubu Astolfo, fiel escudeiro da Bruxa Zelda, ouve tudo e vê que a fórmula do elixir foi anotada em um caderno amarelo. A partir daí, parece fácil conseguir a fórmula. Mas em uma outra casa, na mesma Piririca da Serra, havia o Nicolino, assistente do professor Bóris e sua tia, a Tia Ambrósia. Com esse nome, adivinha o que ela tinha também: um caderno amarelo. De receitas.
Dá para imaginar a confusão, certo? Mas não dá para perder como ela é contada, pois este é uma das delícias de ler Eva Furnari: a escolha da trama, os nomes, a forma como começa e termina, a maneira como nos faz viajar na história, o humor, o sentido e o nonsense caminhando juntos. Tudo isso com um jogo com as imagens divertido e que funciona para deixar o leitor cada vez mais envolvido. As soluções e as dissoluções da narrativa são o deleite principal: é esse ir e vir amalucado que faz esta reedição, 20 anos depois, ser perfeita para ser relida. Ou lida pela primeira vez, o que seria ainda mais apetitoso, somente como 80 docinhos poderiam ser.
Bruxa Zelda e os 80 Docinhos (Ed. Moderna)
textos e ilustrações de Eva Furnari
2014
palpite: para crianças de 7 a 100 anos